quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

a via de longe

às vezes, era um gato. cinza e preguiçoso, esparramado no meio do caminho. às vezes é alguém ou muitos alguéns com os quais cruzamos em casa, na rua, na estrada. a vida não é um caminho. mas a gente anda assim mesmo. caminhando. correndo... atropelando!
bom, se a vida é o caminho, eu ainda não encontrei nenhum rastro, nenhuma trilha. e olha que minhas retinas também estão fatigadas! nunca me esquecerei, no entanto, do gato. e é melhor andar com cuidado pela casa, para não tropeçar no folgado.
descobri que pensar no gato é como torná-lo quadro, de natureza morta. o gato como uma pedra. a vida como caminho.
a vida não existe! a vida não é nada. a vida não anda, a vida não passa. nós é que passamos pela vida. nós inventamos a vida. essa vida. esse substantivo. essa palavra, essa metáfora.
enquanto o poeta fica escrevendo sobre as pedras, e o gato se lambe todo, e as vistas ficam cansadas, e as pessoas se automovem, não é a vida que passa. na verdade isso é a morte, não acham?
é de morte que vivemos. a vida vive de morte. e come o tempo, que nem discute.
a vida é a morte. e pra morte não tem saída!
então tá bom, a vida existe.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

sessão santa que nada.

quando um gato negro cruza o nosso caminho, amemos, amada. há que preencher todo o espaço tão cheio de vazio com aquela substância que não evapora sem deixar rastros e marcas no chão do seu quarto. Santa, santo, sente só esse líquido cor de sangue seco, derramado, transbordando os limites dos nossos próprios copos e corpos delicados como taças.
todo mundo esparrama um pouco, um pé na lama. sem sorte, pé-de-pato pesado e mais nenhum passo. santa amada, santa júlia. santas! tão santas, que nada! nem pato, nem gato nem gatos nem frangos assados nos obrigam a saborear essa carne de sapo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

desemprego

um dia, não exatamente durante o dia inteiro, em parcas horas, estou certa, você pode parar para pensar. pois também é verdade que ninguém anda muito parado, pensando na morte da bezerra (afinal, pode-se viver muitos anos de uma vida, ou muitas horas de um dia, sem se lembrar da existência de qualquer bicho desses que definitivamente não andam à solta em meio aos carros e edifícios, nessas avenidas da nossa vida nas quais apenas nós pastamos mesmo.)
mas, eis que chega o momento de virar gente. e gente como a gente pensa. em pé ou sentado, dormindo ou acordado. é fato. e sempre no passado. ainda que você esteja imaginando um futuro brilhante, ou apenas em coisas brilhantes como as moedas de ouro do tio patinhas. então pode ser que você realmente pare. talvez possa lhe ocorrer que você já não tem idade para histórias de gibi.
você já parou pra pensar? _eu lhe pergunto.
e você poderá dizer: "parar pra quê?" sem nem realizar que você nunca precisou parar pra pensar. algumas vezes a gente pára, é verdade. mas na maior parte das vezes, dispara mesmo! o termo mais apropriado talvez seja disparar!
você já parou pra disparar?_eu lhe pergunto, então.
e você ri. com os olhos, com a boca. daquele jeito leve de quem parou de pensar pra sorrir.
eu sempre acreditei mais nas sensações. mas eu continuo pensando. tem hora que acelera! e tem hora que parece não passar..eu gosto bem desse movimento, um peso, duas medidas.
a língua prega umas peças, não é mesmo? e é divertido desempregar.