sexta-feira, 20 de maio de 2011

MADRIGAL MELANCÓLICA

"O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!"


segunda-feira, 16 de maio de 2011

o tempo da busca pelo tempo perdido

eu não querido tempo, paciência!
tempo que eu não tenho, tempo pra perder
eu não, querido tempo, perdi.
eu perdi querido, tempo
com você,
eu, querido, perdi.
querido eu,
me perdi
é você?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Poesia Vertical I


"Algún día encontraré una palabra
que penetre en tu vientre y lo fecunde,
que se pare en tu seno
como una mano abierta y cerrada al mismo tiempo.

Hallaré una palabra
que detenga tu cuerpo y lo dé vuelta,
que contenga tu cuerpo
y abra tus ojos como un dios sin nubes
y te use tu saliva
y te doble las piernas.
Tú tal vez no la escuches
o tal vez no la comprendas.
No será necesario.
Irá por tu interior como una rueda
recorriéndote al fin de punta a punta,
mujer mía y no mía,
y no se detendrá ni cuando mueras." 
Roberto Juarroz

segunda-feira, 2 de maio de 2011

pra não dizer adeus

não disse adeus quando também não quisestes dizê-lo. sem palavras, e eu cheguei a clamar por Deus. por não adeus. por que Deus? por que não sei mais por quem chamar. porque ninguém mais pode. porque eu não posso mais..nem eu posso com o adeus. porque com Deus se pode estar mudo. e com dor as palavras fogem de mim. de medo as palavras ficaram mudas. como túmulo. e eu com o coração cheio, ainda quente. quando quero falar-te sofro o revés. o coração cheio de anseios, quer contar com desejo, pequenas alegrias. porque os órgãos pulsam por sangue e querem é a pele transpirante, o cheiro de banho tomado exalando pela casa, uma risada tímida ou até mesmo sem graça, que seja. quero seu corpo caminhando no seu ritmo próprio, humildemente interessante. mulher de homem de antigamente. certas palavras desmedidas. algum silêncio desconcertante. cantando agudo e trocando a letra..e me perguntando como e eu respondo como sem você? e me convenço de que não haveria como
nos dizermos adeus, nunca.