segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lembro tanto de você, escutando Elis Regina. poucas vezes a vi chorando como nesses momentos. no dia em que eu vim embora, também não teve nada demais.. pareceu não haver tido.. afora tudo isso, ia indo, não é? tempos depois fui descobrir seus escritos, e de como também você chorava enquanto cozinhava, com o cheiro de alho frito na panela e com a música que a gente fazia, sem nem saber que você escutava.. afora isso, ia indo.. afora tudo isso, eu vou indo..eu ia indo. mas se eu quiser falar com Deus hoje, precisarei esquecer a data. e no que eu pensava enquanto ia não sei pra onde. você também não sabia. qual seria a nossa dificuldade de dizer sobre aquilo que nos fazia ir..e agora eu paro porque estou descobrindo pra onde ia. preciso parar, não quero que tudo, afora tudo isso, vá indo. quero que você saiba, mãe, para onde sua filha vai indo.. e sempre foi indo bem e é por isso mesmo que dói tanto não poder dizê-lo, tocá-la. Vou indo, mãe, nem tão sozinha, mas muito (e como sempre) amada. fui longe porque fui para onde você sem nem dizer me dizia. fui indo, afora isso, atravessando, seguindo, nem chorando nem sorrindo, sozinha..pra capital. com uma mala que nem fedia, nem cheirava mal. uma mala cheia de lembranças, cheia de sonhos, cheia de vida. cheia de solidão, mas uma solidão de quem foi tão amada que é capaz de seguir..afora isso, no fundo, foi demais, não é? e ainda que você não tenha dito nada, e afora tudo isso, eu ia indo, sorrindo e chorando, agora chorando mais que sorrindo..no dia em que você foi embora, desde então, às vezes chorando, às vezes sorrindo.. embora sozinha, vou com ajuda de outras mãos. que quando eu me vi sozinha, vi que não entendia nada. sentia apenas que amava. amá-la, pela vida, era tudo o que eu sabia.